“O que faremos? Esse homem realiza muito sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão os romanos e destruirão o nosso lugar santo e a nossa nação” (Jo 11,45-56).
Qual é a melhor estratégia para manipular a opinião pública e convencê-la de que o bem é mal e o mal é bem? O terrorismo do medo. Funciona sempre, sobretudo quando estão em jogo as vantagens dos poderosos. Quando as elites que mandam e desmandam pelo mundo afora pretendem alcançar algo de seu interesse, não precisam dar uma razão válida, mas um medo válido para que o povo pare de pensar e aceite qualquer coisa, inclusive o mal, para acabar com o que assusta. Basta insinuar e espalhar um medo na mente e no coração da massa e, imediatamente, as coisas que antes eram consideradas erradas, de repente encontram uma justificativa que as torne “moralmente aceitáveis” (pe. Luigi Maria Epicopo). Afinal, como dizia alguém, “os fins justificam os meios”.


Jesus é uma “boa pessoa”. Está em sintonia com Deus. Faz o bem. Sua popularidade cresce cada vez mais. As autoridades religiosas se sentem ameaçadas. Reúnem-se para bolar um plano para eliminá-lo o mais rápido possível. Precisam de argumentos contundentes para condená-lo à morte. Não encontrando nada, o jeito é aterrorizar o povo com a ameaça de uma suposta invasão dos romanos para destruir “o lugar santo e toda a nação” caso Jesus continuar assim. Assim como age o Pai. Nada de novo. O populismo vive disso. Primeiro espalha a desconfiança, depois alimenta o ódio, atiça a raiva e incendeia tudo com o fósforo do medo para conseguir fazer o que mal entender. Exemplos na história não faltam. Os regimes totalitários que aterrorizaram o mundo sempre surgiram do medo de supostas ameaças e se serviram dele para se manterem no poder, usando ferramentas antiéticas e desumanas como a repressão, a tortura, a chantagem, a censura e a corrupção.


Sentir medo não é sinal de fraqueza. O medo é uma emoção crucial para nossa sobrevivência, pois nos mantém mais alertas e desconfiados. Se não tivéssemos medo poderíamos acabar pulando pela janela (Keith Richards). O problema é mantê-lo nos limites certos. Torna-se perigoso quando ofusca nossa razão, paralisa nossa ação, nos obceca e nos joga nos braços de projetos e pessoas que exploram o medo para realizar seus interesses.
No atual contexto brasileiro, temos motivos de sobra para termos medo, mas tem temores que são ardilosamente instrumentalizados para disfarçar projetos ainda mais assustadores. Boa parte da mídia e das redes sociais, descaradamente a serviço de um projeto político que dê sustentação aos interesses do capital, vomita violência o tempo todo, altera a realidade dos fatos para induzir à criminalização de quem propõe alternativas mais justas, alimenta preconceitos e espalha mentiras para aumentar o medo, induzir ao pânico e criar “bodes expiatórios” para esconder as verdadeiras ameaças para o “bem comum”.

O pior de tudo é quando os “amedrontadores” fundamentam o “terror” abusando de argumentos religiosos. Foi assim que aconteceu também com Jesus. “Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função naquele ano, disse: ‘Vós não entendeis nada. Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?’ Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos. A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram a decisão de matar Jesus”. Caifás usa uma profecia do Primero Testamento para justificar o crime de matar Jesus.

A sua eliminação é justificada como uma prestação de serviço a Deus e ao povo. Em suma, Deus passa a ser o mandante do homicídio de um inocente. Esse argumento é blasfemo. Foi amplamente usado ao longo da história e resiste ainda hoje. É indubitável que Deus tenha a capacidade de ressignificar tudo, inclusive as coisas erradas. Um dito popular costuma dizer que Deus escreve certo em linhas tortas, mas esta afirmação não é uma autorização a agir de maneira errada tanto Deus dá sempre um jeito. Não tira nenhuma responsabilidade por nossas ações erradas. Caso contrário, isso nos colocaria na condição de dizer que o mal é necessário para o bem.

O mal continua sendo mal. Nunca pode ser utilizado em busca do bem. A tortura, a violência em todas as suas modalidades, o uso abusivo do poder, a negação dos direitos, a repressão, a censura, a mentira para criminalizar são ações intrinsecamente más. Nunca podem e devem der usadas “a fim de bem”. Se Deus tem a capacidade de saber como tirar o bem do mal, é porque somente Ele pode fazer tal coisa. Mas pensar que é preciso fazer o mal para alcançar o bem é justificar o próprio mal (Pe. Luigi Maria Epicopo). O mal não tem justificativa e, mesmo que tudo termine bem não é pelo mal utilizado, mas pelo bem de quem resiste a ele buscando ousadamente o bem a qualquer custa, inclusive doando a própria vida, como fez Jesus. Aqueles/as que fizeram e fazem o mal tem que prestar contas pelo que fizeram, SEM ANISTIA. Não se trata de vingança, mas de justiça.

(pe. Xavier Paolillo, missionário comboniano)

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